terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Uma Epopéia Desventurada

Hoje foi um desses dias em que as coisas saíram completamente o oposto do planejado e ainda assim ocorreu tudo muito bem, tudo muito certo. Por meses venho enchendo o saco de Carlos Eduardo (Cadu) para que todos possamos ir ao Jardim Zoológico e gastar um rolo inteiro de filme Kodak preto e branco.

Ele é famoso por não acordar cedo, tampouco comparecer a certos eventos ou reuniões. Até ai, tudo bem. A surpresa foi tê-lo feito acordar num feriado de manhã cedo para a nossa reunião. E lá estávamos na fila para compra de ingressos. Cadu, Vitor – irmão caçula dele -, João e eu. Calor de quarenta graus. Era até difícil respirar e o suor não parava de cair ao rosto. Mas estávamos lá para celebrar a amizade e suados, claro.

Hora mágica: Um filme PB de 36 poses em uma câmera e mais outra digital para usar como bem entender. Símios, felinos, aves, turistas, crianças histéricas que não paravam de gritar, e nós lá. Enfim, tive a então chance de fotografar novamente, quatro anos depois, a onça pintada. A primeira tentativa em 2005 numa aula de Introdução a Fotojornalismo, de Marcus Vini.

Por não ter fotometria correta, estabelecendo o clique de 1 segundo de tempo (e acreditem, é muito tempo), minha euforia em captar a imagem do bicho foi pro ralo já que tudo que restou foi um fotograma branco. Sempre que meu antigo professor de fotografia queria citar um exemplo de foto com muita exposição à luz, ele dizia: “Esse aqui é um exemplo perfeito... de como fotografar errado! A foto da onça do Efraim!” E era em alto e bom som, até mesmo em outras faculdade e turmas que lecionava.

A onça? Enfim, clicada. Aleluia! Com o peso fora das costas, me dei a liberdade de gastar o restante do filme a bel prazer e papear sobre a compra do tão cobiçado ingresso da banda Iron Maiden e outras coisas bobas. O auge do besteirol é ver João na jaula em manutenção posando para câmera. Sim, isso mesmo, na jaula!

Com a sensação de dever cumprido e de amizade mais uma vez celebrada que Cadu pergunta se poderíamos ir embora. Dizemos que sim. Ai, o baque: “João, o filme ainda tá disparando?” É quando vejo que a trigésima sexta (e última) posição continuava a disparar. A burrice pesa. O filme não estava devidamente enrolado na câmera. Ok, ok. Tudo bem, é minha culpa. Ainda tinha cerca de cem fotos na máquina digital. Menos mal.

Resolvemos ir embora de vez. Ai, surpresinha desagradável. Um puta pé d’água, e dos fortes. Com nuvens carregadas, a chuva cai forte, o calor vai embora e o vento soprava sem dó, nem piedade. Daí a preocupação com o equipamento na mochila. O que começou como uma garoa terminou com um aguaceiro pesado em nossos corpos e lama no chão. Chegamos ao Cachola (apelido do carro de Cadu). Equipamento fotográfico, carteira e documentos guardados. “Pra que ir embora agora, já tamos molhados mesmo. Agora eu quero ficar.”

Enquanto todo ser humano normal escondia-se ou corria do temporal, quatro seres humanos (de bom senso?) sentados num banco no estacionamento de frente a um lago, completamente encharcados. Rindo, e teorizando os acontecimentos:

1 – A culpa foi jogada em mim. Eu fui o culpado porque sou o responsável a querer chamá-los para esse programa. Em um ato sarcástico-irônico de sempre, o mantra entoado: “Muleque, tu nunca mais me chama pra essas merdas que você inventa!”

2 – A culpa é parcialmente redirecionada a João em desejar sair nesta terça de feriado. Depois de melhor pensando, a culpa é de Cadu, como ele próprio apontara. Pensem bem, é ele que nunca levanta cedo. É ele que quase nunca vai ao encontro de amigos. É dele que vem a preguiça mais mortal que um ser humano já conhecera. O resultado é a chuva! AHÁ! Coisas estranhas acontecem quando ele desafia as próprias atividades fisiológicas. Acordar cedo trouxe a chuva. O que mais será que ele pode fazer?

3 - Como se isso não bastasse, o filme em PB nem ao menos foi usado, e minha busca vingativa em fotografar a mítica onça pintada não fora cumprida. Missão falha! Se não estivéssemos munidos de uma máquina Nikon Digital, ai sim seria um maior desperdício de tempo.

E lá eu estava. Sem camisa, sem calçados, somente de calça jeans e molhado, sentado em um banco, com uma leve dor de garganta. Mas rindo por tudo sair exatamente ao oposto que desejávamos, mas ainda assim tudo de um jeito estranhamente certo já que gargalhávamos sentados de baixo de torpedos de água. Estávamos em pura diversão.

Tão repentino quanto o início da tormenta foi o seu término, com direito a cara de pau de um parcial céu azul e luz do sol. Seria São Pedro debochando e conspirando contra nossos planos? Ao final com roupas pesadas, suor e água caindo no rosto, e dedos enrugados, um céu azul. Para arrematar mais ainda o desfecho de fracassos pessoais, passamos em frente ao Estádio do Maraca, a qual estão sendo vendidos os ingressos para o show do Iron Maiden. Nem mesmo descemos para comprá-los. Já até posso ouvir o João: “Dá tempo rapá. E bobear ainda vende no dia do show”.