sábado, 11 de outubro de 2008

Saudosismo

Em tempos, como os de hoje, lembro-me do Poema em Linha Reta de Fernando Pessoa. Os fodões e os ordinários, os olímpianos e os que querem ser algo além. Não sei criar música, não sou eloquente na fala, não sou atraente ou referencial às pessoas que quero, não tenho uma bela história de vida, tão pouco tenho lições a passar. Não estou no centro das atenções, mas observo atentamente tudo ao meu redor.

Posteridade… É tão importante assim? Se eu não tiver nada a passar? Será que tornarme-ei menos por não criar música, por não ter uma oratória que atraia à todos, em não entregar uma mensagem, por não estar sempre inspirado e contagiar o próximo com as minhas verves pessoais e íntimas? Estaria em menor estado de graça por não ter achado a minha vocação?

Daí aquela necessidade de pertencer à algo maior. O querer encontrar minha morada, meu lugar de pertencimento, encontrar o meu ethos. Ou, em termos mais atuais, encontrar a minha Lenda Pessoal, como já dissera o pop Paulo Coelho. Esses são meus breves momentos de conforto, quando penso em como gostaria que fosse certos pontos da vida.

É como são as coisas… não crio música, mas canto sem parar a mesma canção de todo dia. Não sou bom em conquistar os outros pela palavra dita, mas escrevo para mim, mesmo que não seja poeta e que ninguém venha a ler. Posso até mesmo não atrair os outros com os meus desejos bobos e pessoais, mas inspiro a mim mesmo quando mentalizo os mesmos. Esse é o ponto de equilibrio para mim, o sentir no corpo a harmônia. Música, cinema, amigos, uma conversa e até um simples pensar… Essa é a minha inspiração, que faz o sangue correr nas veias que lembra que vivo ainda estou.

Admito estar preso em uma sensação saudosista que traz consolo. De permanecer fincado em uma memória, de um instante que trouxe conforto, até porque me faz bem lembrar da sensação que foi de abrir um sorriso quando via e fazia com paixão o que dava na telha. É o degustar do bem-estar que sinto falta, e não experimentando mais disso, vem na cabeça a lembrança daquele sorriso na meia luz, o cheiro do perfume daquela pele e a voz aveludada no ouvido. Daí pergunto de novo se eu não deixar algo para a posteridade eu seria lembrado como? E mais, seria notado por essa pessoa em especial? É, não quero mais ter de sentir-me ínfimo em relação à quem realmente tenho apreço.

Eu quero um diferencial. Qual seria então? Me pego pensando no fim de meu tempo nessa Terra e como será. Quer combustível melhor para correr atrás de inspirações do que tomar ciência de que haverá o final da jornada de vida? As possibilidades até lá são grandes.

Um comentário:

Observador disse...

Já pensou que a fotografia é uma forma de 'distanciar-se' da realidade e, ao mesmo tempo, deixar uma marca num tempo que passou (ainda que indefinidamente) em alguns segundos e não volta atrás?