quinta-feira, 17 de julho de 2008

Um Papo Existencial em Paraty

Muito foi pensado quanto a que pôr escrito no trajeto a Paraty, e confesso que agora em que sento de frente para praia nada vem à mente. É o tal bloqueio criativo, não sei. Na primeira noite em companhia de amigos que cursam Comunicação Social, trafegamos pelas ruas do lugar (como o centro histórico) observamos as pessoas, fotografamos, compramos livros e adornos... Mas a atração principal foi a feira da FLIP (Festival Literário Internacional de Paraty), na qual diversas palestras interessantíssimas foram apresentadas.

Mas não estou a escrever aqui sobre o evento, e sim a experiência de divagar nos simples deleites da vida... Que “poetismo” barato, não? Deixe-me explicar. Dizem por ai que as melhores idéias ou conversas surgem na madrugada, despretensiosamente ou só por observar um fato. E sim, o papo até então sem compromisso tornou-se uma avaliação do mundo em uma ótica particular de cada um dos amigos (e de forma bem acalorada). Mas quem diabos sempre diz que esses ‘insights’ vêm na madrugada num papo consigo mesmo ou em grupo? Atrevo-me a responder que são eles. E quem são ‘eles’? Não sei! É como se fosse uma força maior e invisível, contudo presente na vida humana que sempre ganha peso quando um tema é esmiuçado. E quando perguntado quem diz isso é possível corroborar tal afirmação...

Alguns respondem com opiniões próprias (que o tempo todo é ou tem a desculpa de serem plausivamente justificados) ou algo que ouviram falar. Não importa, sempre existirá o coletivo, onipresente, invisível e mítico “Eles”.

Como ponto principal dos vários assuntos abordados em nossa roda, o por quê de questionar a vida. Saber até que ponto é válido questionar a existência, e por sempre questioná-la penso (pensamos) se o ato de fazer isso não seria deixar de viver... Embora interrogando seja uma forma de sofisticar o próprio conhecimento e assim viver melhor, com sabedoria.

Mas questionar a todo o tempo é cansativo, ainda mais quando não se obtém respostas. Daí argumento sobre quais pontos valem a pena ser levantados e se simplesmente ao se saturar de tantas observações e perguntas com relação a existência, se não seria apenas mais fácil ser, estar, aproveitar aquilo que nos foi dado e desenvolver o uso do nosso conhecimento, que é a sabedoria. Detectar que coisas são ditas como necessárias a serem analisadas e outras a simplesmente serem aceitas. Contentar-se só por existir e ser parte do todo, ou conformar-se e ter a certeza de que não se pode saber tudo. Saber que não se sabe é uma forma de conhecimento e de todas as perguntas levantadas durante tal madrugada, volta-se a questão inicial, básica a tudo... Citando Sócrates “Só sei que nada sei”. Singelo e direto, e ainda assim não vejo certeza absoluta se esta afirmação é correta diante do vasto conhecimento da Humanidade, mas é inegável que essa afirmação tem um homérico impacto.

É um ciclo sem fim, mas que tem seu inicio e sua volta a esta premissa. Um tanto paradoxal, já que, se é algo sem fim, não deveria existir ter um começo, meio e termino... Mas está lá na frase de Sócrates.


Quanto ao que se discutia para gerar tanta opinião, raciocínio lógico, tanto empenho de nossas faculdades mentais, eu não sei se importa tanto até por que poderia ser qualquer coisa, e o que interessava era o ‘conhecimento’, a existência da vida. Como todo ser humano é passível de erros, prefiro ater-me em simplesmente aceitar certas coisas como elas são (embora seja muitíssimo importante indagar, protestar e não se conformar facilmente com nada, se isso trouxer a melhoria do todo, do coletivo). Para muitos pode ser visto como uma mera desculpa e preguiça de racionalizar tudo, para outros é apenas abraçar e ficar inebriado pelos instintos básicos humanos (e não é isso que somos, humanos?)

Religião, Ciência, Ceticismo, Ateísmo... Será que não é um jeito desesperado de justificar uma existência e dar rumos importantes, que tenham significado a nós mortais? Um jeito de nos sentirmos bem conosco?

Tudo escrito deve soar contraditório, paradoxal, mas deixo aqui a minha interrogação: ”Até que ponto vale a pena questionar a existência, o todo, se isso traz gasto de energia vital a nós?” Sempre voltamos ao ponto de partida, já que é a pergunta que nos move... “Por quê?”. Talvez seja arrogância dizer que conseguiremos saber tudo. Somos humanos e não Deus.

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